Querido menino Jesus,
À semelhança dos outros anos, 2005 não foi lá grande exemplo de bom comportamento. Mas, como pedir não custa e a cara de pau é sempre a melhor política – pelo que vejo por aí – atrevo-me a pedir que concretizes alguns desejos.
A lista de prendas seria longa e penosa, pelo que aqui deixo apenas alguns desejos que, creio, aliados ao desaparecimento do Sócrates numa expedição no Quénia, tornariam este um País muito melhor. A saber:
1) a erradicação dos Pais Natais pendurados nas janelas e varandas.
2) a proibição de fatos ridículos de lantejoulas nos espectáculos circenses.
3) a aplicação da pena de morte às enfermeiras e auxiliares de saúde que mostrarem trombas às grávidas com contracções.
4) a legalização das apostas no Betandwin, de preferência acrescentando-lhe uma vertente pornográfica.
5) a diminuição radical da idade da reforma dos funcionários públicos, que seriam submetidos à aplicação da vacina da raiva.
Admito que no momento em que te escrevo esta carta já prevariquei. Na verdade já fui abrindo uns presentes que me foram oferecendo, entre os quais saliento uma camisa de dormir da hello kitty cujo corte minimalista e fitinhas de baby doll a tornam pouco apropriada para o meu actual avançado estado de decomposição.
De todo o modo, se me ouvires prometo:
- deitar fora os brinquedos perversos que tenho na mesa-de-cabeceira
- nunca mais riscar os carros que estacionam em frente à minha porta
- deixar crescer os pelos púbicos como uma mulher normal e respeitável
- não embirrar mais com o Tiagão quando ele vai ao futebol e aos ensaios da banda
- nunca mais gozar com as gajas mal vestidas que passam por mim na rua
Mais uma vez deixa-me reiterar que bem sei que não serei nenhum exemplo de candura mas, meu menino Jesus, bem vistas as coisas, e comparando com os nossos presidentes das câmaras, empresários e presidentes de clubes de futebol, se eu não tiver direito a prendas, quem terá?