Bem podemos limpar as mãos à parede
Esta noite adormeci horrorizada com os detalhes sórdidos em torno do caso “Vanessa”, a menina que apareceu a boiar no rio Douro. Começou ontem o julgamento do pai, da avó e da tia, o que trouxe a lume a experiência horrífica que marcou os últimos meses de vida desta criança.
Em 2003 cinco crianças com menos de quatro anos foram espancadas até à morte. Os casos da Joana, da Catarina e do Daniel apresentam detalhes igualmente escabrosos.
E se a morte destas crianças me horroriza, horroriza-me ainda mais imaginar os que sobrevivem, os de que nada se sabe. Nossos vizinhos.
Toda a gente aparece nas TVs muito espantada com estes casos. Eu não me espanto nada.
Em primeiro lugar porque somos todos parte de uma escumalha fútil e hipócrita. E depois, porque, uma criança, ou duas, ou mais, requerem uma tal dedicação afectiva, física e até financeira para a qual muitos não têm capacidade. Esses muitos descambam. Os outros fazem ouvidos moucos. Puta que nos pariu a todos.
Uma mãe, num acto de loucura, abana o bebé ou lança-o pela janela fora. Mais frequente do que imaginamos. Loucura, desequilíbrio.
Um pai ou uma avó queima uma criança com o ferro do leite-creme ou mergulha-a numa banheira de água a ferver e deixa-a agonizar durante dias até à morte, como aconteceu com a Vanessa. Pura maldade.
Sejamos francos, o choro de um bebé, as birras de uma criança, são dose. Mesmo para aqueles que as desejaram, que estão preparados para o desafio.
É em nome dos direitos humanos que se colocam de lado penas como a de morte e de esterilização. Ainda me hão-de explicar essa. Em nome dos direitos humanos, condenem essa gente a uma electrocussão anal em praça pública.
Enquanto crianças como a Vanessa, a Joana, a Catarina e o Daniel continuarem a morrer às mãos daqueles que, constitucionalmente, têm a obrigação de as proteger e amar, quero que o défice e o desemprego se fodam. Não somos País nem somos nada. Estamos todos de parabéns.