Rabo de Saia

Os factos aqui contidos são reais e qualquer semelhança com a ficção é mera coincidência.

 

quarta-feira, março 15, 2006

Bem podemos limpar as mãos à parede


Esta noite adormeci horrorizada com os detalhes sórdidos em torno do caso “Vanessa”, a menina que apareceu a boiar no rio Douro. Começou ontem o julgamento do pai, da avó e da tia, o que trouxe a lume a experiência horrífica que marcou os últimos meses de vida desta criança.

Em 2003 cinco crianças com menos de quatro anos foram espancadas até à morte. Os casos da Joana, da Catarina e do Daniel apresentam detalhes igualmente escabrosos.

E se a morte destas crianças me horroriza, horroriza-me ainda mais imaginar os que sobrevivem, os de que nada se sabe. Nossos vizinhos.

Toda a gente aparece nas TVs muito espantada com estes casos. Eu não me espanto nada.

Em primeiro lugar porque somos todos parte de uma escumalha fútil e hipócrita. E depois, porque, uma criança, ou duas, ou mais, requerem uma tal dedicação afectiva, física e até financeira para a qual muitos não têm capacidade. Esses muitos descambam. Os outros fazem ouvidos moucos. Puta que nos pariu a todos.

Uma mãe, num acto de loucura, abana o bebé ou lança-o pela janela fora. Mais frequente do que imaginamos. Loucura, desequilíbrio.

Um pai ou uma avó queima uma criança com o ferro do leite-creme ou mergulha-a numa banheira de água a ferver e deixa-a agonizar durante dias até à morte, como aconteceu com a Vanessa. Pura maldade.

Sejamos francos, o choro de um bebé, as birras de uma criança, são dose. Mesmo para aqueles que as desejaram, que estão preparados para o desafio.

É em nome dos direitos humanos que se colocam de lado penas como a de morte e de esterilização. Ainda me hão-de explicar essa. Em nome dos direitos humanos, condenem essa gente a uma electrocussão anal em praça pública.

Enquanto crianças como a Vanessa, a Joana, a Catarina e o Daniel continuarem a morrer às mãos daqueles que, constitucionalmente, têm a obrigação de as proteger e amar, quero que o défice e o desemprego se fodam. Não somos País nem somos nada. Estamos todos de parabéns.

quarta-feira, março 08, 2006

Feliz dia da Mulher

és pouco bom és
(o outro post era só para despistar)

Mulheres, essas putas


Não duvido que o dia da mulher seja pretexto para muito boa coisa, como receber flores. Mas serve sobretudo de pretexto para dizer mal dos homens.

Pessoalmente, eu dispenso as flores. Fazem um chiqueiro para arranjar e murcham num instante.

Prefiro um relógio, um anel, um perfume, enfim, algo mais duradouro. Um carro novo também não seria má ideia. Mas até acredito que muitos homens oferecem flores com a melhor das intenções. Adiante.

Escolho então dizer antes mal das mulheres. Porque as mulheres são, de facto, as maiores inimigas das outras mulheres. Senão vejamos apenas alguns exemplos. Elas são:

- as mais ferozes críticas das colegas de trabalho que estão de licença de maternidade ou que faltam porque um filho está doente;
- capazes de se esgatanhar por um gajo bom (coisa que os homens, pretensos animais sexuais, fazem com muito menos frequência);
- doentiamente competitivas no que respeita à forma física e à indumentária;
- muito mais permissivas na educação de um filho do que de uma filha. E sogras bem mais agrestes para as noras do que para os genros.

Mas se os homens com quem as mulheres estão não as fazem felizes, pergunto-me se não estarão apenas com o homem errado.

Mais. Atrevo-me a dizer que seríamos muito mais felizes se nos concentrássemos menos nos homens e mais em sermos solidárias umas com as outras. Não contra eles mas a nosso favor.

E quanto aos homens serem uns filhos da puta. Não duvido. Tanto quanto as mulheres são umas putas. A prova disso é que estou há precisamente 1312 caracteres a dizer mal das outras mulheres.

segunda-feira, março 06, 2006

E o Óscar vai para...

Onde está a cagona da gata?Eu gostava de ter visto a entrega dos Óscares ontem à noite. Infelizmente, entre fraldas, biberões e algumas horas soltas de sono, tal não foi possível. Também tinha imensa roupa acumulada para passar a ferro e umas lãs para lavar à mão. E ainda havia o cocó da gata para limpar.

Aliás, não vi muitos dos filmes galardoados. Experimentem aguentar duas horas sentadas numa cadeira de cinema com uma barriga cheia de liquido amniótico e um amoroso bebé a pressionar a ciática.

Estes impedimentos são, aliás, comuns entre as grandes estrelas. O próprio Jon Stewart não viu todos os filmes nem teve o habitual mês e meio de preparação para a noite dos Óscares, devido ao nascimento da sua primeira filha.

Os prémios e o sexo
Mas não perdi a entrada do anfitrião e fui apanhando umas coisas aqui e ali. Um tipo qualquer ligava, por exemplo, “O Segredo de Brokeback Mountain”, “Capote” e “Transamerica” pelo tema da identidade sexual na America. Ora, a identidade não me interessa muito. O sexo, isso sim, faz vender bilhetes. Pelos menos a mim. Eu não vou obviamente desenvolver essa ideia, até porque ninguém me paga para isso mas aquilo soou-me inteligente, apesar do tipo ser da TVI.

Custa-me usar as palavras ‘identidade’ e ‘America” na mesma frase mas teve de ser. Não tenho nada contra a América. É graças ao MacDonalds que podemos obter um hambúrguer, uma dose de batatas fritas, uma coca-cola ou o telefone da menina por trás do balcão por apenas um euro. E depois acho que a América tem evoluído muito no que diz respeito à identidade do seu povo e à sua História. É só importar mais meia dúzia de castelos franceses e a coisa até se compõe.

E enquanto uns saboreavam a vitória, outros nem por isso. Apesar das cinco nomeações, "Munique" não foi galardoado. Atrevo-me a adivinhar que terá sido pela Academia de Cinema, Artes e Ciências norte-americana já não poder ouvir falar no Steven Spielberg. É pena não acontecer o mesmo em Portugal com o Manoel de Oliveira.

Feira das vaidades
Mais do que os filmes, a passagem das estrelas ao longo da carpete vermelha é o que realmente importa. O meu marido até se pode babar com os decotes e as rachas mas, para mim, aquelas gajas tresandam a falsidade.

Frases do género: “Esta manhã levantei-me e vesti o primeiro trapinho que me apareceu à frente” ou “Os outros nomeados para a mesma categoria que eu são todos fantásticos” ou mesmo “eu sou uma pessoa normal, igual a tantas outras” são um atentado à minha – mesmo que parca - inteligência.

Eu gostava de saber quando foi a última vez que alguma destas “pessoas normais” limpou cocós de gata ou lavou umas lãs à mão.

Falsos ou não, são todos bons como milho. Aliás, em prol do glamour, aproveito para apelar à extinção dos críticos de cinema da noite de entrega dos Óscares. É que eles destoam. São feios. Se for mesmo necessário ouvi-los então, pelo menos, não os mostrem.

Gente normal
E ainda não sei como o Kodak Theather não apareceu nas listas dos melhores sítios para o engate. No meio de tantas celebridades milionárias, desequilibradas, em processo de divórcio, e em plena desintoxicação, as hipóteses de um tipo se dar bem são elevadíssimas.

Se este tom ácido soa a dor de cotovelo, soa muito bem. E com toda a razão. As mamas e as contas bancárias daquelas tipas deixam-me nauseada.

E é envolta no meu roupão de “gente normal”, pejado de borbotos e de cores desbotadas pelas inúmeras lavagens sem woolite que regresso aos afazeres domésticos. Espero que a gata não tenha feito mais cocó.