Sexta-feira é um bom dia para relativizar os problemas que ainda na segunda-feira pareciam incorrigíveis e monstruosos. Por isso esperei até hoje para falar de futebol. Receava dizer algo que pudesse soar a falta de patriotismo. Ou azia, mesmo.
Não ganhámos o mundial. Não posso dizer que tenha ficado satisfeita com isso mas não deixam de me irritar os efeitos exacerbados de companheirismo que rodeiam estes grandes eventos futebolísticos.
É que nem no Natal, a amizade, a boa vontade e a generosidade se fazem sentir desta maneira. É oficial. O Mundial de Futebol põe o Natal a um canto. E o São Nicolau não há-de estar muito contente com isso. Depois não se admirem se na meia encontrarem umas truces brancas de presente. Ah, pois é.
E o comportamento dos tugas ao volante é sintomático. De manhã gritam com velhinhas, apressam mães atarefadas nas passadeiras, escarram pela janela e a apitam assim que o sinal fica verde. À noite, após uma vitória fresquinha da selecção, somos todos amigos. Não há pressas e "Portugal é o maior".
Portugal é, de facto, grande. Mas para ser o maior teria de manter este ambiente de cordialidade e companheirismo muito para além das celebrações nos Marqueses de Pombal por esse mundo fora.
Em relação à França, nem o facto de ser sexta-feira ameniza o que teria a dizer sobre um povo que dá o nome pomposo de
escargots a algo tão nojento quanto os caracóis. Não é necessário denegri-los porque eles fazem isso sem precisar de grande ajuda. Basta saber de
Um Morto e Vários Feridos Após o Jogo do Mundial, em Paris, e da agressão a António Esteves Martins, durante o seu directo para a RTP.
Pode uma mente mais distraída estar agora a pensar: -"Esta gaja é estúpida! então ela não deseja que Portugal ganhe!" Esta gaja é, de facto, um bocado estúpida, mas deseja que Portugal ganhe.
Portugal são os portugueses. E esses estão cada vez mais estúpidos, abrutalhados e alheios aos outros. Há uns que até cortam as unhas na praia. Acreditem ou não. Mas os outros não são melhores. Terão outros defeitos. Talvez ninguém devesse ganhar até aprender a comportar-se. Substituam os árbitros por continas de recreio que a coisa endireitava-se.
Mas, de qualquer maneira, só uma gaja faria ilações acerca do merecimento de uma vitória com base no que se passa tão longe das quatro linhas. Para além de estúpida, serei retorcida também, então.
Esta gaja, estúpida e retorcida, também é demagógica. Eu gostava de ver esta capacidade de mobilização em torno da selecção aplicada a outras realidades como a injustiça, a pobreza, o desemprego, a violência e por aí fora. Bem sei que não é futebol.
Assim sendo, que fique claro que não há nada de anti-patriótico nas minhas palavras. Não é que não goste de Portugal. É que gosto tanto que não suporto vê-lo assim.