Eu levo a mal
O medo de levar com um ovo na cabeça - até porque ainda ontem fui ao cabeleireiro - é uma das razões que me levaram a acompanhar o carnaval a partir de casa, frente à TV, enroscada num sofá, muito quentinha. O facto de detestar o carnaval também contribuiu.
Note-se que eu sou toda a favor de fatiotas ousadas e poucas vergonhas na via pública. Desse ponto de vista o carnaval é até uma iniciativa muito louvável. E num país onde 8% da população está desempregada, é importante animar a malta. O outro já dizia: -"Não tens trabalho? Faz comá mim. Dá-te à paródia."
Mas, comparando com as boazonas das brasileiras, assistir ao desfile de atentados à estética - entre barrigas de cerveja, braços amolecidos pelos rojões e nádegas esburacadas pela celulite - é constrangedor.
Ora, entre os vários canais televisivos, acompanhei os foliões por todo este Portugal, desde a Mealhada a Loulé, passando por Torres Vedras e Sesimbra e estou à vontade para dizer que todos estes locais apresentavam duas características em comum. Primeiro: o mau gosto. Segundo: o frio.
O mau gosto ainda vá que não vá. Agora o frio. Pela televisão, o aspecto solarengo do dia ainda poderia enganar alguns. Mas a mim não, telespectadora atenta. Os mamilos arrepiados das luso brasileiras e os anoraks dos que assistiam não mentem. Estava frio.
Devia ser proibido fazer desfiles de carnaval com temperaturas abaixo dos tantos graus. Isso sim seria uma medida conjuntural importante para ó Conselho de Ministros. Mas aqueles tipos só pensam no sacana do défice.
Já agora podiam acrescentar mais uma clásula a essa lei: "Quem come rojões não pode desfilar". Fica a sugestão.
De todo o modo, e de entre muitos momentos de pura decadência que o dia nos presenciou, decidi destacar dois:
Na Mealhada, esta menina seguia num carro alegórico com um cartaz que rezava "Queres Pito? Come este que não tem gripe". Belo momento de sátira política.
Na Madeira, Alberto João Jardim decidiu mais uma vez não desfilar. Questionado por um jornalista sobre se a sua presença não faria falta para animar, o Presidente do Governo Regional, muito compostinho entre a multidão, responde: -"Não faz mal. Eu já animo a malta o resto ano todo." Na mouche.