Antes ...
7:00 – Levantava-me e abria as portadas do quarto para ir acordando o Tiago.
7:10 – Limpava um ou outro xixi que o cão fazia na cozinha para se vingar de não o termos deixado dormir no quarto da Beatriz.
7:15 – Tomava duche enquanto ia chamando o Tiago até ele aparecer macambúzio.
7:30 – Era a vez do Tiago tomar duche.
7:35 – Acordava a Beatriz devagar e com muito mimo (ela tem mau acordar), vistia-lhe o roupão e levava-a às cavalitas para a casa de banho.
7:40 – Sentava a Beatriz na sanita, punha-lhe a pasta de dentes na escova e enchia-lhe o copo de água. Penteava-lhe o cabelo e prendia-lho para que pudesse lavar a cara e os dentes sem comprometer a integridade dos seus longos cabelos cor de mel.
7:45 – O Tiago saia do duche (metade do tempo que lá estava, estava a dormir) e tomava posse do lavatório, expulsando a Beatriz, também ela a dormir em pé.
7:50 – A Beatriz vestia a farda que a aguardava em cima da cama. Precisava sempre de ajuda para endireitar os colarinhos da camisa, abotoar os sapatos ou escolher o penteado do dia.
7:55 – O Tiago perguntava por boxers lavados e acabava por ir buscar um par à corda da roupa ou ao cesto da roupa para passar. Depois vestia-se e resmungava se era dia de levar fato e gravata.
Eu também gosto mais de o ver de calças de ganga e t-shirt. Para já porque está claramente mais feliz. O Tiago é, para mim, um “lembrete” diário e higiénico de que a vida é feita de coisas pequenas e simples.
8:00 – O Tiago saia para passear o cão e comprar pão fresco.
A D. Maria – a padeira – gosta muito do “franjinhas” (é assim que ela chama ao nosso cão sem nunca querer saber como é que ele se chama realmente), que espera educadamente à porta enquanto o dono entra para levantar as “seis carcaças do costume”.
8:15 – A Beatriz tratava dos animais: dava comida à tartaruga, limpava a areia da gata, mudava a água e a ração dos comedouros. Eu ia pondo a mesa do pequeno-almoço e dando os últimos retoques na lancheira da Beatriz, enquanto ela reclamava alterações de última hora na ementa.
8:30 – Sentávamo-nos finalmente a tomar o pequeno-almoço. O Tiago barrava manteiga nos pãezinhos. Eu punha açúcar nas canecas. A Beatriz tentava, sem sucesso, levantar questões profundas de conversa como a morte, a caridade ou as relações humanas. Tanto eu como o Tiago íamos lembrando em tom mais ou menos impaciente, dependendo dos dias, de que ainda não tocou na comida.
Lá fora ouvimos os homens das obras vociferar entre eles em crioulo, a azáfama da substituição dos carros dos moradores por os dos que ali trabalham. Ás vezes sinto o aroma longínquo – mas nem por isso menos incomodativo – de um cigarro ou outro. Incomoda-me especialmente quando se trata de SG Filtro ou SG Gigante.
8:45 – Despediamo-nos várias vezes à porta enquanto eu me certificava de que nenhum esquece nada em casa.
Parecemos uns cromos dos “Dias Felizes” enquanto nos despedimos, cruzando beijos e desejos de um bom dia. O Tiago sai sempre com a Beatriz de sobrolho franzido fazendo contas ao lugar onde terá estacionado o carro desta vez. A Beatriz volta sempre atrás para vir buscar um boneco e às vezes consegue levar a dela avante.
9:00 – Eu levantava a mesa, deixava um recado à empregada, punha mais uma máquina de roupa a lavar, acabava de me embonecar e arrancava para o trabalho.
9:00 – Eu levantava a mesa, deixava um recado à empregada, punha mais uma máquina de roupa a lavar, acabava de me embonecar e arrancava para o trabalho.
2 Espreitadelas:
E agora? Como é? A Beatriz está liiiinda!
os seus desejos são ordens para mim, sónia!
Espreitar
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